José Morujo Júlio, começamos por dizer, é um montalvanense muito amante da sua terra, à qual vem, aliás, com regularidade semanal.

Mas essa é uma caraterística comum a tantos conterrâneos, que igualmente amam e visitam Montalvão, com mais ou menos frequência.

O que torna Morujo Júlio merecedor da singela homenagem que o atual executivo da Junta de Freguesia de Montalvão lhe decidiu fazer, é a circunstância de ter sido um notável atleta de alta competição, na especialidade de atletismo – fundo e meio-fundo -, campeão individual e por equipas, tanto a nível nacional, como internacional.

Integrou a seleção nacional, tendo representado Portugal inúmeras vezes, competindo e vencendo os melhores na sua época, sucessos que, no entanto, não o fizeram perder a compostura e a simplicidade que ainda hoje mantém.

Conhecem os mais velhos o percurso e as vitórias do nosso estimado e tão simpático conterrâneo José, popularizado como Morujo Júlio, mas é importante que os mais novos e as gerações futuras saibam que Montalvão teve um atleta de tão grande estirpe, que foi e continuará a ser motivo do nosso orgulho e profundo reconhecimento, pelo Campeão que foi, pelo amantíssimo montalvanense que continua a ser.

Morujo Júlio, a par de outros, já foi merecedor de uma homenagem promovida em 18 dezembro de 2004 em Nisa, pela Associação Nisa Viva, Jornal de Nisa e IniJovem. Faltava a sua própria e amada terra, fazer-lhe esse tributo. Pecando por tardio, foi este o dia escolhido pela Junta de Freguesia de Montalvão para cumprir esse dever de cidadania, a um natural que para além da notoriedade que atingiu, nunca enjeitou a sua terra natal, continuando a ser um montalvanense de gema.

Também no livro “Montalvão, Elementos para uma Monografia desta Freguesia do Concelho de Nisa”, da autoria de António Cardoso Mourato, editado em 1980, lhe é feita a referência que passamos a citar, com a devida vénia ao seu autor: …” Morujo Júlio – campeão de atletismo do Sporting e de Portugal. Não só por ser um campeão, mas porque é um “ferrenho” montalvanense, segundo nos dizem, merece mais páginas do que esta simples menção” …

Igualmente, no portal da Junta de Freguesia de Montalvão é-lhe feita referência e encontram-se publicadas algumas fotos, que agora vão ser enriquecidas com as que o próprio selecionou e muito gentilmente nos cedeu, para ali serem perpetuadas.

Mas dado considerarmos que os seus feitos merecem e justificam maior destaque e refrescamento da nossa memória coletiva, decidiu a Junta de Freguesia de Montalvão tributar-lhe publicamente o nosso reconhecimento por ter dignificado o nome de Montalvão e se manter como uma das suas referências mais distintas.

É um tributo inquestionavelmente merecido, que apenas peca por tardio.

Para tornar esta nossa singela homenagem ainda mais digna, contamos com a participação especial do Grupo Coral EmCanto, que desde o primeiro momento se associou a esta iniciativa, bem como dos agrupamentos por ele convidados.

O habitual Concerto Final de Época do Grupo Coral EmCanto é assim dedicado ao nosso homenageado José Morujo Júlio, cabendo-nos enquanto membros executivos da Junta de Freguesia de Montalvão, agradecer aos componentes do EmCanto e aos agrupamentos seus convidados – “Os Encantos do Alentejo-Grupo de Danças e Cantares e ao Coro de Mafra, aos quais damos as boas-vindas -, por esta associação e pelos momentos seguramente muito agradáveis que nos irão proporcionar.
Incumbe-nos agora fazer uma breve apresentação do nosso muito prezado conterrâneo, Morujo Júlio, enquanto atleta e homem multifacetado.

– José Morujo Júlio, nasceu em Montalvão no dia 7 de novembro de 1944, na qual residiu e completou a instrução primária, partindo depois para Lisboa, com seus pais, por volta dos 10 anos de idade.

Atingida a idade própria, ingressou na Marinha de Guerra Portuguesa em 1962, para cumprimento do serviço militar, mais precisamente no Grupo N.º 1 de Escolas da Armada, em Vila Franca de Xira. Por ironia do destino, a sua incorporação coincidiu com a de José de Sousa Cintra, que viria a ser mais tarde Presidente do Sporting Clube de Portugal, o mesmo clube onde Morujo Júlio se tornou famoso.

Porém, a sua entrada no Sporting, onde fez testes após ter completado a recruta militar, não se deu através de Sousa Cintra, mas por influência de outro grande desportista, o também famoso José Travassos – o nosso Zé da Europa -, inesquecível futebolista da época de ouro dos famosos “cinco violinos”, tal a sua arte futebolística.

Logo na primeira prova oficial em que entrou, em Coimbra, no corta-mato nacional de juniores, consagrou-se vice-campeão.

Tal vitória foi apenas o começo de uma brilhante carreira, recheada de vitórias e recordes nacionais, como atleta de alta competição, tanto no seu clube de sempre, o SCP, como na Seleção Nacional, tendo sido internacional meia centena de vezes.

Campeão individual e coletivamente em provas a partir dos 800 metros até aos 3000 metros obstáculos, tinha, contudo, nos 1500 metros a sua corrida de eleição, onde mais brilhou nacional e internacionalmente.

Foi recordista nos 1000 metros e 1500 metros (pista coberta), bem como nas estafetas de 4×800 e 4×1500 metros, fazendo equipa com outras grandes figuras do atletismo nacional, como Carlos Lopes, Fernando Mamede, Armando Aldegalega, Américo Barros, José Diogo e Carlos Cabral.

A ponta final era a sua principal “arma”, fazendo-o empolgar milhares de adeptos nos vários estádios em que correu, com destaque para o antigo Estádio José Alvalade e Estádio 1.º de maio. Estes dois estádios, em especial, foram palcos de inesquecíveis duelos Sporting-Benfica, onde pontificava a corrida de 1500 metros, chamada pela imprensa de “A Prova Rainha”, a preferida do nosso homenageado.

Morujo Júlio e Carlos Tavares, (este correndo pelo SLBenfica), eram os principais intervenientes, mas a ponta final do “leão” sobrepunha-se inapelavelmente. José Diogo, do Sporting, contribuía decisivamente para o espetáculo, pois era ele que assumindo o papel de “lebre” imprimia um ritmo diabólico à corrida.

Mas Morujo Júlio também se destacou noutras áreas, inevitavelmente relacionadas com o desporto e com a modalidade que em boa hora escolheu – ou o escolheu a ele -, dadas as suas raras caraterísticas inatas para o atletismo.

Assim, naquela Escola da Marinha, tirou o Curso de Educação Física e lecionou para os mancebos, entretanto ali admitidos.

Tirou igualmente o curso de Treinadores de Atletismo, e no primeiro ano preparou dois campeões nacionais de juniores em representação da ADO (Associação Desportiva de Oeiras) – Cipriano Lucas nos 1500 metros e corta-mato e Luís Neves, nos 100 e 200 metros.

Colaborou na dinamização desportiva patrocinada pela Direcção-Geral dos Desportos, no Estádio Nacional.

Em 1974 ingressou nos quadros do “Diário Popular”, dado se encontrar inscrito no CNID (Clube Nacional de Imprensa Desportiva), tendo a seu cargo o Atletismo e as Novidades do Sporting.

Posteriormente, a convite de Artur Agostinho, então diretor do “Record”, passou também a escrever para este periódico e esporadicamente no jornal “A Bola”.

Morujo Júlio conta atualmente 72 anos, o que, no entanto, não o impede de fazer “footings” e ciclismo, apenas para manutenção, como diz, ou para não perder o jeito de campeão, como acrescentamos nós.

Em termos profissionais, o nosso muito estimado e tão simpático José Morujo Júlio, mantém a atividade que realiza desde há muitos anos, na Espingardaria A. Montez, que todos conhecemos no Rossio, em Lisboa, de que é Gerente.

Além da celebridade do seu Gerente, trata-se de uma loja histórica e famosa, não só porque tem a bonita e rara longevidade de 115 anos, como foi nela que o Visconde da Ribeira Brava adquiriu a carabina Winchester, tornada famosa por ter sido com ela que o tristemente célebre Manuel Buíça alvejou no Terreiro do Paço o Rei D. Carlos e o seu filho primogénito D. Luís Filipe, decorrente sucessor ao trono, e, dessa forma, se acelerando o fim da Monarquia.

Depois disto, desejando-vos desde já um bom espetáculo, passo de imediato a palavra ao nosso muito ilustre homenageado José Morujo Júlio, para quem peço uma grande salva de palmas.

Fonte: Luis Gonçalves Gomes